Em tempos de uma cultura marcada pela instantaneidade, o conceito de luxo na arquitetura e no design de interiores ganha novos significados. O arquiteto paulistano João Armentano é um dos grandes nomes do Design de Interiores a explorar essa evolução. Ele defende que o verdadeiro luxo reside na atemporalidade e na capacidade de um ambiente sustentar beleza e funcionalidade ao longo dos anos, sempre em sintonia com as necessidades das famílias que o habitam.
Com mais de três décadas de atuação e projetos assinados no Brasil e no exterior, Armentano traz uma perspectiva que valoriza o uso de materiais naturais, a conexão com a história e o desejo de criar espaços que vão além das tendências passageiras. Um de seus projetos mais recentes, o Artus Vivence, primeiro empreendimento da GHC Incorporações em João Pessoa, é um exemplo claro de como ele transforma essa visão em realidade.
O projeto também é assinado pelos arquitetos Ricardo Nogueira e Julio Ono, do escritório Burle Marx.
Segundo Armentano, é gratificante encontrar parceiros que compartilham a mesma visão sobre arquitetura e raro conseguir que essa parceria amadureça a ponto de materializar uma obra. “Neste projeto, sinto que encontramos uma dessas parcerias. A qualidade do desenho arquitetônico elaborado pelo Ricardo e do paisagismo do Julio Ono torna esse empreendimento uma rara ocasião em que há uma convergência da visão arquitetônica e uma plataforma para torná-la realidade”, celebrou.
Na entrevista a seguir, Armentano reflete sobre o conceito de luxo, a integração da natureza em seus projetos e o desafio de criar ambientes atemporais que acolham as complexidades da vida familiar.
Como o senhor enxerga a evolução do conceito de luxo na arquitetura ao longo dos anos?
O luxo é moldado por muitas circunstâncias históricas, geográficas e climáticas. É importante compreendê-las no presente, claro! Mas penso que é mais interessante buscar os denominadores comuns. ‘Onde está a possível universalidade do alto padrão?’ Esse raciocínio nos ajuda a não ficarmos à mercê de modismos passageiros e a construir algo que não se torne ultrapassado rapidamente. Essa abordagem me parece afinada com o conceito de luxo na contemporaneidade: se tudo passa tão rápido, o luxo é o que consegue resistir dignamente às flutuações. Muitas vezes, é o que tem um lastro histórico sólido e o que não vai deixar de ser pertinente no ano seguinte. Para ser uma boa arquitetura, precisa seguir sendo pertinente.
Em seus projetos, a presença de elementos naturais é uma constante. Como a natureza foi integrada ao projeto do Artus Vivence?
Isso está relacionado à maneira como eu e a equipe do Armentano Arquitetura trabalhamos com o luxo. A natureza é um luxo. A possibilidade de estar em contato direto com ela é um diferencial incontestável. A presença da natureza no projeto arquitetônico ocorre de muitas formas diferentes, mas podemos nos ater simplesmente ao valor plástico dos materiais naturais: suas cores, suas texturas e sua forma. Estamos diante de uma riqueza inigualável. Para os renascentistas, a verdadeira beleza não estava justamente na natureza? Assumindo essa premissa, o projeto propõe o uso de materiais naturais para o interior do edifício. Frequentemente usamos madeira em revestimentos porque, além de ser um material que aquece o ambiente, seus veios e sua textura enriquecem os espaços, emprestando-lhes uma dimensão tátil e visual muito particular.
Quais aspectos devem ser considerados para que um ambiente residencial seja acolhedor e realmente confortável para as famílias?
Um aspecto que já tratamos e que é fundamental para a felicidade e o conforto é a relação com a natureza. Além disso, existe um outro conjunto de fatores que diz respeito à adequação do espaço não apenas ao seu uso, mas também aos sujeitos que o utilizam. Paulo Mendes da Rocha dizia que a arquitetura deveria amparar a imprevisibilidade da vida; eu concordo muito com ele e acrescentaria que o projeto de interiores deve amparar os afetos do cotidiano. Para isso, em primeiro lugar, é preciso compreender a função de cada espaço e, depois, extrapolar desse uso os afetos que permeiam os encontros das pessoas naquele espaço. Por isso, não se trata de solucionar mecanicamente quais objetos vão em qual lugar, mas de selecionar os objetos que sejam capazes de acolher confortavelmente a complexidade desses encontros e envolvê-los em um contexto que inspire seu desenvolvimento.
Criar um projeto atemporal é sempre um desafio. Quais são os elementos essenciais que permitem que uma obra resista ao tempo e mantenha sua relevância e elegância?
É preciso conciliar pelo menos duas coisas para que um projeto resista ao tempo com elegância. A primeira, que já expus, diz respeito à dimensão universal que um edifício pode ter. Neste sentido, o importante é, por um lado, a qualidade da construção e a relação que ela estabelece com o seu entorno, e isso não está vinculado a nenhum estilo; por outro, a importância recai na forma como o projeto é, ao mesmo tempo, catalisador e acolhedor das experiências e afetos de seus habitantes e usuários.
O segundo elemento crucial para a longevidade de um projeto é a capacidade que ele tem de assumir a sua própria historicidade. Seja na escala do edifício, seja na escala do projeto de interiores, a arquitetura é sempre resultado de inúmeras contingências. O que se mantém constante é o abrigo das atividades e das pessoas, além da relação do edifício com o entorno. Esses aspectos são necessários, ainda que não sejam os únicos, para garantir a pertinência de uma obra ao longo do tempo.