Condenado a 280 anos de prisão pelo assassinato de nove mulheres, Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, planeja mudar de nome assim que deixar a cadeia. Um dos criminosos mais notórios do Brasil, ele deve ser colocado em liberdade em 2028, quando completará 30 anos encarcerado, limite máximo para cumprimento de pena previsto pela legislação do país à época da sentença.
“Sou um novo homem. Aquele Francisco não existe mais”, afirmou Pereira em entrevista inédita à psicóloga forense luso-brasileira Simone Lopes Bravo, de 50 anos, dentro da Penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo. Como ele sairá da cela diretamente para a rua, sem progressão de regime, não haverá exame criminológico, no qual o apenado é avaliado por psicólogos e assistentes sociais para identificar se representa risco à sociedade ou possibilidade de reincidência.
Atualmente, Pereira está preso na cela 59 do Pavilhão 3 da Penitenciária de Iaras, onde divide espaço com outros seis condenados por estupro. Durante a conversa com a psicóloga, ocorrida em 2024, ele deu detalhes dos crimes cometidos. Confirmou, por exemplo, que voltava aos locais para se masturbar diante dos corpos. “Ficava com muitos pensamentos. Não conseguia parar de pensar. Aqueles pensamentos me excitavam”, narrou.
Ele também contou que escolhia as vítimas no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e as atraía com promessas de trabalho como modelo. Pelo menos nove foram assassinadas com sinais de violência sexual. Outras, afirma, acabaram poupadas. “Mesmo dentro da mata, resolvia não fazer nada com algumas delas. Aí eu as levava de volta até o ponto de ônibus e falava para ela ter cuidado”, contou na entrevista. O estuprador e homicida confesso garante que, nessas situações, não havia qualquer contato físico: “Nem um beijo”.
Francisco relatou ainda que seus impulsos surgiram ainda na infância, ao ter acesso precoce a revistas pornográficas no ambiente de trabalho do avô. Na adolescência, mantinha diversas relações sexuais enquanto patinava em São José do Rio Preto (SP), onde nasceu: “Meus pensamentos eram mais fortes que eu. Não conseguia controlar”. Quando perguntado por que não matava homens, respondeu: “Porque eu me sentia atraído por mulheres, pelo corpo das mulheres”.
Ele afirma ter passado por uma conversão religiosa em 24 de abril de 1999. Foi batizado por evangélicos na Penitenciária de Itaí e diz que, desde então, não teve mais pensamentos violentos ou sexuais desviantes: “Nunca mais voltaram.” Agora, vive em constante oração: “Até quando vou caminhar, estou meditando na palavra.”
Apesar da religiosidade, afirmou que não pediria desculpas às famílias das vítimas: “Deus já me perdoou.” Questionado se aceitaria conversar com os parentes, respondeu que sim, mas limitou sua mensagem a uma frase: “A conversão é o único caminho.”
Simone Bravo começou o contato com Francisco por correspondência com o objetivo de escrever um livro. Ela enviou cartas a mais de dez criminosos, mas ele foi o único que respondeu. Morando em Portugal, Simone contratou uma advogada no Brasil, conseguiu ser incluída na lista de visitantes de Francisco e passou a encontrá-lo regularmente dentro da penitenciária na condição de “amiga”, conforme consta no prontuário do preso.