
Este ano eu li menos do que eu gostaria. Li bem menos livros do que os que comprei. Li menos do que as listas de desejos. Mas eu termino o ano satisfeita porque li de forma contínua. Algumas semanas mais, outras menos. Mas eu sempre tive um livro por perto – de janeiro até esses últimos dias de dezembro.
De tudo o que li, posso afirmar, sem medo, que “A Cabeça do Santo”, de Socorro Acioli, e “De onde eles vêm”, de Jefferson Tenório, foram as melhores. Leituras distintas, mas ambas de alto valor literário para quem deseja uma literatura que prende e encanta.
Os dois livros me conquistaram nas primeiras páginas e não os larguei até conclui-los. Sabe aquelas leituras que a gente devora? Essas duas são assim.
O romance de Socorro Acioli figurou na lista dos mais vendidos e assim deveria permanecer. É um livro encantador com os elementos do realismo mágico, e que traz toda a magia por trás da história do jovem Samuel, que consegue ouvir as preces de mulheres para Santo Antônio, o santo casamenteiro segundo a tradição católica. A história se passa na cidade de Candeias.
O livro é inteligente, perspicaz e ainda traz elementos que nos remetem à realidade, tendo em vista que a história tem como base uma estátua inacabada no Ceará. Ah, não posso deixar de dizer que Socorro Acioli foi aluna do imortal Gabriel Garcia Marquéz. É um ótimo livro para presentear.
O outro livro de destaque para mim neste ano foi o do também brasileiro Jefferson Tenório – “De onde eles vêm”. Daquelas leituras que trazem um tema necessário, o racismo e todas as consequências desse mal na sociedade, onde pessoas ainda se acham superiores por causa da cor da pele. Uma vergonha e um retrocesso, além de ser crime inafiançável previsto na legislação brasileira.
É esse o fio condutor da obra de Tenório, que também é autor de “O avesso da pele”, outra obra que traz denúncia social e que, inclusive, chegou a ser censurado em algumas escolas por alegarem que trazia elementos eróticos.
O “De onde eles vêm” traz a temática do racismo através da história de Joaquim, o narrador, que entra na Universidade através do sistema de cotas. O racismo, o desemprego, a clássica luta de classes, e a paixão pela literatura é abordado no livro de forma envolvente e que desperta reflexões ao leitor.
Para o ano que se aproxima, já preparo a minha lista de leituras e me abro para conhecer novos autores e me encantar com tudo o que a literatura é capaz de nos proporcionar.
Valéria Sinésio
Jornalista e leitora


