Estive há alguns dias na nova unidade da Livraria Cultura, em São Paulo. Confesso que estava ansiosa e com certa esperança de encontrar algo parecido com o que a livraria já foi em tempos passados. As novas instalações estão na avenida Angélica, em um casarão histórico, com o teto bonito e uma escada em madeira que leva ao piso superior. Imagens bonitas, é verdade, mas nada que se compare à imponência do que foi a Livraria Cultura na avenida Paulista. Quem teve o privilégio de conhecer as antigas instalações, sabe que a livraria era cartão-postal da cidade, e destino certo dos apaixonados por livros.
Para contextualizar, caso haja algum leitor que não saiba, a Livraria Cultura vem, ao longo dos últimos 10 anos, lutando para sobreviver (situação que se repete em praticamente todas as livrarias físicas do país, salvo raras exceções). Em 2018, a Cultura deu entrada em um pedido de recuperação judicial, com dívidas na ordem de 285,4 milhões.
O encolhimento do mercado editorial resultou no pedido de falência e no fechamento da icônica loja da avenida Paulista. Para milhares de brasileiros, como eu, aquela Livraria Cultura imponente, linda e com estantes de livros para todos os lados, só restou na memória ou em fotografias.
A nova unidade, agora em Higienópolis, é bonita do ponto de vista físico e pela carga histórica que o próprio casarão representa. Os leitores assíduos certamente a visitarão. Quando eu fui lá, tinha um movimento tímido. Alguns clientes olhando as prateleiras, uns três folheando livros e ninguém no caixa comprando.
Peguei um livro e fiz a consulta do valor: R$ 89,90. Quase que instintivamente (não sou a única a fazer isso, tenho certeza) fiz a pesquisa na Amazon para saber o valor do livro. A diferença foi gritante: R$ 29,90. Com certo constrangimento, devolvi o livro à estante e me contentei em passear pela livraria, com uma certa angústia pensando até quando teremos livrarias físicas.
Entra em cena a discussão: como competir com a gigante Amazon? Como as livrarias físicas irão sobreviver com essa diferença de preço?
Geralmente, diante desse questionamento, é comum apontar um culpado: o leitor que deixa de comprar na livraria física e opta pela internet pelo preço. Um dia desses, na Livraria Leitura, em João Pessoa, vi uma ecobags com a frase: “eu apoio as livrarias de bairro”, como forma de incentivo à compra em livrarias físicas.
Sempre que possível (e eu me esforço para isso) compro em livraria física. Acho que faz parte da experiência. A minha vontade era de sempre comprar em livrarias físicas, mas o valor cobrado acaba sendo a limitação.
Mas, retomemos a discussão. Seria realmente o leitor o culpado pelo fechamento das livrarias físicas? Eu acho que essa culpa recai sobre o leitor que compra pela internet ou em sebos porque é mais fácil culpá-lo.
A venda de livros no Brasil caiu 8% em 2023, e o faturamento encolheu 5,1% em relação ao ano anterior. Uma cena lastimável, sem dúvidas. Mas daí culpar o leitor, chega a ser cruel.
Convenhamos, de forma bem honesta, para a média do brasileiro, livro ainda é um item caro. E a cada dia parece ficar mais e mais. Pagar R$60,00 em média por um livro, por mês, para o brasileiro que se encontra dentro da classe média, é algo que pesa. Se pensarmos em quem recebe um salário-mínimo, essa compra se torna impraticável.
É fundamental que se tenha incentivo às livrarias físicas, de forma sustentável envolvendo as próprias livrarias, as editoras, autores e os leitores. Só assim, talvez, esse cenário possa mudar e não sejamos mais obrigados a testemunhar o fechamento de livrarias. Cada vez que uma fecha, me vem um pensamento tomado de angústia e desesperança, que vem no questionamento: “O que deixaremos para as próximas gerações?”.
Valéria Sinésio
Jornalista