
Por muito tempo, muito tempo mesmo, eu não me permitia abandonar uma leitura. Não importava o quanto fosse enfadonha, o quanto me desanimasse. Eu tinha o pensamento de que, uma vez iniciada, a leitura deveria ser concluída. Mesmo que isso me causasse um certo tédio. Mesmo ‘sofrendo’ eu persistia na leitura até o final. E, na maioria das vezes, não mudava a impressão sobre a leitura. Terminava um livro, mas me frustrava por ter, de alguma forma, perdido tempo com um livro que não me agradava.
Mas eu mudei. Sim, mudei. A nossa experiência com leitura vai nos amadurecendo. E, sim, diante de uma leitura que consideramos ruim, devemos repensar se prosseguimos ou a abandonamos. Afinal, mais vale abandonar um livro que o habito da leitura em razão de uma experiência negativa.
Mas acho que não deve ter radicalismo. De jeito nenhum. Fosse assim, eu não teria conhecido todo o esplendor de Gabriel Garcia Marquez com o ‘Cem anos de solidão’ e tudo o que só acontece Macondo, como a chuva por 40 dias ou as borboletas amarelas. A saga dos Buendia não me conquistou na primeira tentativa.
Nem na segunda. Mas na terceira eu consegui me conectar com a escrita criativa de Gabo e desde então não larguei mais.
O que não quer dizer que essa é a regra. Tem livro que não vale a pena ser lido mesmo. E a melhor alternativa é abandoná-lo e partir para outra aventura. Sabemos que a leitura é uma experiência que se completa com o leitor, então, parei de me sentir culpada quando um livro não prendia minha atenção. Mas penso que a vida é curta demais para que desperdicemos o nosso valioso tempo com leituras que não nos apaixonem.
Decidi que, se o livro não é bom, eu fecho e sigo para o próximo. E me despi de culpa.
Tenho sido mais feliz assim.
Valéria Sinésio
Jornalista