Por muito tempo, eu fui a leitora que não abandonava leituras. Não importava quanto cansativa fosse, eu persistia até a última página. Dependendo da dificuldade, eu partia para outra leitura até ‘aliviar a mente’ e retomar o livro enfadonho. Diante de um livro cansativo, eu sempre achava que o problema estava comigo. Nunca com o livro. Nunca com o autor. O problema, na minha cabeça, era sempre meu.
Até que um dia, lendo um livro de crônicas de um escritor nacional (creio que Rubem Alves) vi um trecho que muito me chamou atenção e me fez refletir. Dizia que, se um livro não prende a nossa atenção, a culpa não seria nossa, e sim do autor que não escreveu de forma a conquistar os olhos de quem lê – há quem discorde.
Falava ainda que, nós leitores, não teremos todo o tempo que quisermos para lermos os livros que desejamos ler ao longo da vida. Justamente porque a vida se acaba. Os livros ficam. E diariamente novos são escritos. E de repente temos listas e listas de livros que desejamos. Refletia, portanto, o autor: por que perder tempo com um livro que não nos conquista se temos tantos outros para ler? Se deixaremos tantos outros intocáveis porque não teremos vida suficiente, tempo suficiente, para essas leituras?
E foi a partir que eu me desobriguei a ler o livro enfadonho. Confesso que não abandono de primeira. Não é no primeiro desanimo que já largo o livro. Eu tento uma, duas, talvez três!
Se a leitura não me prende e não engata, eu desisto. Abandono sem culpa e parto para o próximo.
Aprendi também que algumas vezes isso acontece porque não estamos no momento certo daquela leitura. Precisa rolar química, a gente precisa se apaixonar pelo livro, pela narrativa. Sabe aquela coisa de manter o livro grudado consigo enquanto não termina? Sabe a tal da ressaca literária que nos faz sentir saudades do livro? Isso é indispensável.
Mas, da mesma forma que me desobriguei a ler livros que parecem enfadonhos, também aprendi a ser paciente e dar uma nova chance a alguns. Aconteceu isso quando li pela primeira vez ‘Cem anos de solidão’, do célebre Garcia García Marquéz. Que bom que eu tentei novamente. Se eu tivesse de salvar só um livro da literatura mundial, certamente seria esse.
Por fim, acho importante refletirmos sobre o que decidimos ler. A leitura precisa ser prazerosa. Com exceção dos livros técnicos e dos estudos, os livros devem nos fazer bem. Se eles nos servem de companhias, que estejamos sempre bem acompanhados.